terça-feira, 4 de novembro de 2008

A teia da concentração dos media

A concentração tem sido a tendência. Na Europa o grupo alemão Bertelsman e o francês Havas são proprietários de uma imensidão de órgãos de informação.
Em Portugal o caminho tem sido o mesmo. Impresa, Cofina, Media Capital e a Controlivenste de Joaquim de Oliveira são detentoras de jornais, revistas, televisões e outras plataformas.

Se uma imprensa livre é um dos principais garantes da democracia, se os media podem ter um contributo importante no nível de desenvolvimento de um País, partindo do princípio que as pessoas são mais esclarecidas, talvez fosse melhor haver uma maior preocupação com a concentração da propriedade dos media, porque o pluralismo está certamente a ser gravemente ferido.

Corre-se o risco de a liberdade de imprensa passar a ser uma espécie de "liberdade de empresa", como lhe chamou Claude Julien.

Por um lado, os media são vistos como o "quarto poder". Embora haja quem defenda que o poder mediático é o segundo poder, atrás do económico e financeiro. Por outro, já dizia Serge Halimi, os media devem ser "os cães de guarda do poder", no sentido de serem vigilantes e não permitirem abusos.

É indiscutível a influência que os media exercem na sociedade. O impacto que têm a vários níveis. A sua capacidade de estruturar a sociedade, de nos dizerem sobre o que pensar e o que debater, ao agendarem uns temas em detrimento de outros, ao darem tempo de antena ao João e ignorarem o que diz o Manuel.

Acontece que também os detentores do dinheiro, e portanto potenciais aglutinadores de órgão de comunicação social, têm bem presente essa realidade. E se para além do objectivo da maximização do lucro, o que por si já acarreta constrangimentos na forma como se trabalha, estes magnatas tiverem outro tipo de pretensões?

Há uns anos, Emídio Rangel dizia que a SIC, então líder de audiências, tanto era capaz de vender sabonetes como presidentes da república. Não creio que isoladamente tivesse esse poder, embora pudesse dar um sério contributo. Mas nesta nova realidade, a da concentração, não duvido da eficácia de uma eventual estratégia concertada, com eco na TV, rádio, jornais, revista e sites.

Os pequenos jornais vivem cada vez em maiores dificuldades. Se pensarmos que até o jornal regional que na altura tinha maior tiragem nacional, o Jornal do Fundão, teve de ser vendido à Lusomundo para sobreviver...

Tenho a certeza que a maior parte dos jornalistas tenta fazer um trabalho honesto, embora sempre olhado com desconfiança, com segundas intenções e com o escrutínio de muita gente tendenciosa. Acredito piamente que a esmagadora maioria não se presta a subserviências. Mas e os interesses ocultos que quem manda possa ter? Isso não é fácil controlar. E o chefe pode até não dizer "não quero que escrevas sobre isto ou aquilo", no entanto, pode impor uma agenda conveniente...

São apenas algumas reflexões dispersas na sequência da leitura do post em que são referidas as ameaças as pluralismo e as suas consequências. É também um assunto que merece alguma atenção para compreendermos um pouco melhor esta TEIA.

Ana Rodrigues

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