terça-feira, 14 de outubro de 2008

Contextos de mudança III (Síntese da aula anterior)

Verificou-se uma grande transformação ao nível empresarial. A estrutura relativamente disseminada de propriedade dos meios foi dando lugar, sobretudo após os anos oitenta do século passado, a grandes conglomerados mediáticos regionais, nacionais e internacionais, por vezes integrantes de grupos que aliam a produção de conteúdos para rádio, imprensa, televisão e Internet aos meios para processamento da informação (informática...) e aos meios de difusão (telecomunicações, indústrias gráficas, distribuição cinematográfica...). A concentração da propriedade dos media é problemática por várias razões: pode ameaçar o pluralismo jornalístico; impõe um aproveitamento de sinergias que uniformiza e reduz os conteúdos; diminui o número de empregos jornalísticos; e reduz o número de potenciais empregadores de um jornalista descontente ou que tenha sido despedido, o que potencia fenómenos de auto-censura e uma maior sujeição dos jornalistas às directrizes da cúpula empresarial, quer em matéria de conteúdos quer de políticas de gestão dos recursos humanos. Desde os anos 80 que se verifica a reentrada em cena dos grandes grupos económicos, gerando uma grande actividade financeira traduzida por fusões e aquisições e cruzamentos de acções. A questão foi analisada minuciosamente do ponto de vista das consequências da concentração de capital na gestão das organizações mediáticas e, por conseguinte, da sua repercussão editorial. Determinou-se que, no caso dos jornais, as pressões económicas significavam:menos espaço para as notícias em detrimento da publicidade; menos recurso humanos em termos de jornalistas, especialmente correspondentes; menos disponibilidade para reunir material adicional que permita contextualizar os factos (Golding e Murdock, 1982).
As novas alterações estruturais da indústria mediática conduziram ao grande aumento do custo de produção, devido à necessidade de reconversão tecnológica; necessidade de grandes investimentos na área do marketing, promoção e publicidade, segmentação da oferta e instauração de uma concorrência feroz. (Cfr. Correia, 1997: 70). Verificam-se, na área da informação, necessidades crescentes de integração multimedia em outros sectores das indústrias culturais para potenciar as possibilidades de promoção recíproca e induzir retornos rápidos do investimento. Estas alterações traduziram-se numa luta desenfreada pelas audiências com o aumento das soft news e também numa redução significativa de custos em detrimento dos recursos humanos destinados a outro tipo de informação, assim como na concentração de um número maior de tarefas num número menor de trabalhadores. A questão que se levanta na integração em grandes cadeias e conglomerados tem a ver com o efeito que a necessidade de retorno de investimento tem sobre o jornalismo praticado. Quanto mais lucro, a firma exige, menos dinheiro disponível existirá para ser dispendido em jornalistas e cobertura noticiosa e mais delegações serão encerradas. Este tipo de políticas traduz-se ao nível jornalístico numa alteração dos géneros noticiosos, com um aumento da percentagem de soft news e de infotainment.

Sem comentários: